Como funcionam os aeroportos? Entenda o que é Apron Control
A superfície dos aeroportos, em todos os lugares do mundo, divide-se em dois espaços bem definidos – a área de manobras, que inclui pistas de pouso e pistas de táxi, e os pátios de aeronaves. Juntas, as duas constituem a chamada área de movimento de um aeroporto.
No Brasil e na maioria dos países da América Latina, a Torre de Controle – responsável pelo serviço de controle de tráfego aéreo na área de manobras, assume também a responsabilidade pela orientação dos pilotos, em seus deslocamentos dentro do pátio de aeronaves, ainda que o serviço prestado neste setor seja apenas de informação de voo. Esta prática resulta em aumento da carga de trabalho dos controladores de voo, desviando sua atenção das tarefas efetivamente associadas à prestação do serviço de controle de tráfego aéreo no aeroporto.
Em paralelo a isto, é de extrema relevância para a concessionária responsável pela operação do aeroporto, o aumento de eficiência dos processos operacionais associados à gestão do aeroporto, que reflete diretamente no resultado financeiro da operação da empresa.
A combinação de ambos fatores aponta na direção da conveniência da adoção, pelas concessionárias aeroportuárias brasileiras (e latino-americanas, em geral), do Apron Control – configuração aeroportuária padrão dos Estados Unidos.
A adoção do Apron Control em um aeroporto consiste na implantação, pela concessionária, de um centro responsável pela orientação de pilotos e condutores de veículos de serviço dentro do pátio de aeronaves, permitindo aos controladores de voo, concentrarem sua atenção nas tarefas inerentes à prestação do serviço de controle de tráfego aéreo no campo de aviação. O Aeroporto Internacional Tom Jobim, administrado pela concessionária RIOgaleão, foi o primeiro na América Latina a implantar um Apron Control, utilizando como recursos fundamentais para a prestação do serviço, a tecnologia de Multilateração e a ferramenta de consciência situacional Aerobahn Surface Manager, ambos fornecidos pela Saab.
Para descrever o funcionamento de um Apron Control e explicar de que forma novas tecnologias, como as oferecidas pela Saab, podem otimizar a gestão de um aeroporto, entrevistamos Sergio Martins, diretor de Gestão de Tráfego Aéreo para América Latina na Saab. Confira!
1. O que é o Apron Control?
O Apron Control é um órgão operacional, cuja implantação resulta da decisão do operador aeroportuário, de chamar para si a responsabilidade de gerenciar os movimentos de aeronave e veículos de serviço, dentro do pátio de aeronaves do aeroporto. Ao transferir para si tal responsabilidade, a concessionária, por meio do Apron Control, assegura que a gestão do pátio de aeronaves seja realizada em estreita coordenação com o Centro de Operações do aeroporto – outro órgão sob sua gestão. Tal coordenação proporciona ganho de eficiência, ao incluir o pátio de aeronaves, nos esforços da concessionária pela máxima eficiência na gestão do aeroporto.
2. De que forma as soluções da Saab auxiliam na gestão do aeroporto?
Toda operação do Apron Control está fundamentada no conceito de ampla consciência situacional, justamente a essência do que proporciona a solução Aerobahn Surface Manager da Saab, em aeroportos equipados com a tecnologia de Multilateração (vigilância cooperativa), também fornecida pela Saab, no Aeroporto Internacional Tom Jobim. O Aerobahn Surface Manager proporciona à concessionária monitoramento, em tempo real, da posição de aeronaves e veículos em qualquer ponto da superfície do aeroporto. A maioria de portes médio e grande existentes nos Estados Unidos, como os de Nova Iorque, Chicago e Dallas, utilizam a plataforma Aerobahn de gestão aeroportuária da Saab, que além do Surface Manager, oferece outros módulos conforme a necessidade de nossos clientes, sempre contribuindo para o aumento de eficiência da gestão aeroportuária. Entre tais módulos, encontra-se o Aerobahn Departure Manager (DMAN) – ferramenta de sequenciamento de decolagens e diversos outros módulos não associados diretamente ao Apron Control.
3. Quais os benefícios da adoção da plataforma Aerobahn da Saab, para os diferentes atores (stakeholders) de um aeroporto, como concessionária, companhias aéreas, prestadores de serviço (ground handlers) e passageiros?
Dentro do ambiente atual em que tanto a própria concessionária, quanto os demais atores envolvidos são entidades privadas, cujo resultado financeiro de suas operações está intimamente relacionado à eficiência de suas operações, aumento de eficiência significa melhor lucratividade. Iniciativas como o a adoção do Apron Control, visam justamente proporcionar maior eficiência (ampliação da lucratividade) à operação do aeroporto, ao otimizar a utilização da infraestrutura existente.
Há de se ressaltar que tão importante quanto a agilidade dos procedimentos em um aeroporto, é a previsibilidade da operação. Se uma companhia área sabe que seu voo não será autorizado a iniciar a manobra de acionamento de motores e saída do gate nos próximos 60 minutos, certamente evitará o embarque precoce de passageiros, que tanto incômodo proporciona, comprometendo a experiência de voo de seus clientes. Melhor alternativa seria, por exemplo, permitir aos passageiros desfrutar (e consumir) dos serviços do aeroporto, por mais alguns minutos, o que, diga-se de passagem, aumenta o retorno financeiro de sua operação. Há de se pensar o aeroporto como uma cidade, onde a previsibilidade é um fator essencial - agilidade e rapidez são sempre bem-vindas, desde que amparadas pelo realismo e pela previsibilidade.
Finalmente, há de se considerar que o aumento de eficiência, dentro do ambiente aeroportuário leva à redução do consumo de combustível e a um impacto ecológico negativo, associado à redução da produção de CO2.
4. Que diferenças existem entre a América Latina e regiões como Estados Unidos e Europa, no que diz respeito à consciência situacional em ambiente aeroportuário?
Sendo as condições meteorológicas, em média, sensivelmente mais favoráveis do que na Europa e nos Estados Unidos, o protagonismo da vigilância de superfície, para fins de controle de tráfego aéreo na América Latina tem sido historicamente muito inferior ao que se verifica naquelas regiões. Entretanto, à medida em que programas de privatização aeroportuária proliferam exponencialmente na América Latina, dá-se uma importante quebra de paradigma, no que se refere à consciência situacional – maior eficiência operacional significa maior lucratividade, o que impacta diretamente no negócio das concessionárias aeroportuárias (e demais stakeholders provados). Parece não haver dúvidas de que no futuro, a gestão aeroportuária “às cegas” não terá espaço em aeroportos de grande e médio volume de tráfego – a vigilância de superfície, como fonte de consciência situacional, despontará como elemento essencial na gestão aeroportuária.
5. Como tem sido o suporte oferecido pela Saab desde o início da operação do Apron Control na RIOgaleão? Quanto a ferramenta contribuiu e oportunizou vantagens à concessionária?
Implementar o Apron Control é muito mais do que simplesmente criar um espaço físico e equipá-lo com sistemas e operadores. Há todo um redesenho da operação integrada entre o Apron Control, a Torre de Controle e o Centro de Operações do aeroporto, que inclui o desenvolvimento de um conceito de operação (CONOPS), e a participação da Saab, no projeto da RIOgaleão foi de fundamental importância. Como desenvolvedor de soluções, é essencial acomodar, ao mesmo tempo, as necessidades do usuário final das ferramentas – o Operador do Apron Control, e os objetivos de negócio da concessionária. Cada novo recurso implantado deve facilitar a operação do usuário de ponta e contribuir para o resultado gerencial da empresa. A Saab tem muito orgulho de ter participado desta iniciativa pioneira, na qual a RIOgaleão desenvolveu e implantou com sucesso, um projeto que certamente será replicado em outros aeroportos da região.
6. Que mudanças de paradigma importantes estão associadas ao Modelo Operacional A-CDM (Airport Collaborative Decision Making)?
Hoje fala-se muito da implementação do modelo operacional A-CDM, sigla em inglês de tomada de decisão colaborativa em ambiente aeroportuário. Esse modelo é pouco conhecido na América Latina, sendo frequentemente confundido com um sistema ou um projeto, quando na realidade trata-se de um processo extremamente crítico e de grande impacto no cotidiano de todos os stakeholders aeroportuários.
A adoção do Modelo Operacional A-CDM requer, como condição prévia essencial, um grande salto de qualidade nos níveis de consciência situacional comum entre todos os atores que operam dentro do aeroporto. O A-CDM exige que operador aeroportuário, companhias aéreas, Torre de Controle, ground handlers, compartilhem absoluta consciência situacional - onde se encontra cada aeronave e veículo de serviço a cada momento. Sem isto, não se pode conceber o A-CDM.
Não se pode confundir, entretanto, o simples (e indispensável) compartilhamento de informações, com a implantação do Modelo Operacional A-CDM em si. Há muito outros aspectos envolvidos, como obrigações e sacrifícios a serem assumidos, por parte de cada ator da cena aeroportuária, para que o Modelo Operacional A-CDM possa resultar nos efetivos benefícios operacionais concretos associados a ele.
O que experimentávamos na América Latina região ao final de 2019 refletia uma necessidade premente de consertar problemas “com o trem em movimento”. O que a pandemia – e a drástica (e temporária) redução da atividade do transporte aéreo nos oferece, é a oportunidade de aprender, compreender, planejar e retomar uma trajetória de crescimento da atividade, de forma mais coerente e criteriosa.
Iniciativas como a adoção do Apron Control e a utilização de ferramentas de promoção de consciência situacional, estão entre muitas alternativas a serem consideradas. Um pouco disto se pode assistir aqui onde contamos um pouco da história da bem-sucedida implantação do Apron Control pela RIOgaleão, no Aeroporto Internacional Tom Jobim.